Como nossos pais – Reflexões sobre “Os cinco níveis de apego”

“Eu discordo do que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo”. Essa é uma frase mundialmente famosa que chegou ao meu conhecimento não através de um livro de história, mas através de meu pai. É engraçado como só entendemos certas coisas com o passar do tempo mesmo e, que chega um ponto em que a ideia de virar nossos pais, acaba sendo muito mais do que bem vinda.

Quando comecei a leitura de “Os cinco níveis de apego”, de Don Miguel Ruiz Jr., estava um tanto quanto cética, pelo fato de já ter lido “Os quatro compromissos”, de autoria de Don Miguel Ruiz, seu pai. Automaticamente, comparei os dois e assumi que seria uma leitura enfadonha de mais do mesmo. Mais uma vez paguei a língua em relação aos meus preconceitos e julgamentos e o que me fez começar a leitura pensando no pai do autor, me fez terminar pensando no meu.

Enquanto adolescente, alguns de meus debates com meus pais, chegaram a ser um tanto quanto calorosos, mas algo que sempre observei, é que o tom de voz de meu pai nunca subiu e suas lições nunca foram passadas através do medo. Talvez por isso eu nunca tenha tolerado que um homem gritasse comigo. Quando eu chegava em um ponto da conversa no qual perdia totalmente a razão (porque sim eu sempre acabava chegando lá) fosse por meu comportamento equivocado, fosse por ter falado besteira além da conta, ele olhava dentro de meus olhos e repetia a frase que começou esse texto. Calmo. Sutil. Totalmente em seu lugar.

O comportamento dele me deixava com mais raiva ainda, sempre me fazia querer enfiar meu ponto de vista abaixo de sua goela. Eu não suportava a ideia dele não discutir, porque eu não poderia me debater diante da defesa de meus ideais e principalmente, porque eu sabia que estava errada, mas meu ego não queria me deixar admitir. Veja bem, eu precisava que ele levasse isso adiante, porque a partir do momento em que ele me respondia com amor, eu estava desarmada. Mas cá entre nós, quem disse que a gente precisa sair impondo nossas opiniões e vontades sobre os outros? Quem de fato a gente pensa que é? O que me enfurecia no passado, de fato me abre os olhos agora.

Durante a leitura, lembrei muito desses momentos com meu pai, de todos os ensinamentos que minha família como um todo tem me passado e, pensei sobre essas pequenas coisinhas que a gente só vai entendendo depois de adulta. Sem querer dar spoiler, o que me fez começar a escrever esse texto, foi a forma como o autor explora a questão das nossas reações quando somos confrontados ou algo nos desagrada. O que ele diz no livro, nada mais é do que aquilo que meu pai vem me ensinando por todo esse tempo que a gente se conhece. Ele escolhe ouvir o outro lado e é mais uma das coisas que mal posso esperar pra continuar aprendendo com ele. 

Enquanto novata nessa vida adulta, me sinto feliz em chegar a essa fase de finalmente começar a tentar entender coisas que enquanto adolescente eu tinha certeza de que sabia. Talvez uma das partes mais legais de ir adquirindo maturidade, seja reconhecer os momentos em que os que vieram antes de nós estavam certos. Recomendo a leitura de “Os cinco níveis de apego” de Don Miguel Ruiz Jr., se você estiver disposta a deixar um pouco o ego de lado e entender que muitas vezes, a tóxica pode ser você. É uma delícia constatar a cada dia, que a gente não sabe nada, mas que é assumindo isso que começamos a aprender.

Quem escreve

Sou modelo, faço arte, escrevo textos e bato papo aleatório nas redes sociais.

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